Saltar para o conteúdo

Qual é o traço que me define,

17/01/2021
by

agora, quando fico sozinha diante de mim, sem espelho nem truque? Em que eu me sustento, quando tudo em mim silencia? O que é que a chuva me diz, hoje, quando vem lavar os telhados debaixo da minha janela e desmanchar o mundo? O que as minhas mãos espalmadas, espantadas de si mesmas, ainda guardam? Sobrou alguma coisa depois de todas as despedidas não declaradas e as desilusões e as renúncias e as covardias e as distâncias? Ficou alguma coisa mais palpável que o (enorme) catálogo de manias e a tracklist de músicas com nomes de amigos e lugares bem marcados no tempo? Ou terá sido tudo uma grande trapaça e eu nunca estive aqui? O que será que eu procuro (o que eu encontro) em tantas selfies escondidas e meticulosamente catalogadas? Dizem alguma coisa essas figuras esboçadas no papel com tanto desprendimento? Por que, por que jogar a âncora das palavras exige um esforço cada vez maior? Por que o que antes era riso e desatino e iluminação agora é luta, xadrez, corda bamba? O que é que teima em me afastar? O que me faz querer ficar?

No comments yet

Deixe um comentário